Por ELISA PINNA
- O papa Bento XVI chega hoje aos seus 83 anos de idade, a apenas três dias de completar cinco anos à frente do Vaticano, em meio a uma das mais graves crises da história contemporânea da Igreja Católica.
Desde o início de seu Pontificado, Joseph Ratzinger, um tímido professor de teologia nascido na Alemanha em 16 de abril de 1927, já sabia que a missão de suceder o popular João Paulo II não seria fácil, mesmo assim ele aceitou a incumbência no dia 19 de abril de 2005.
Ao longo desses cinco anos, Bento XVI teve alguns êxitos em sua "administração", mas tem sido marcado pelas duras críticas às atividades da Igreja, além de não ser compreendido pela opinião pública.
Em sua primeira aparição como Pontífice, após quase um quarto de século desempenhando no nada fácil cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (1981-2005), Ratzinger se autodenominou um "humilde servo nas vinhas do Senhor", qualidade que o acompanhou ao longo de seus pronunciamentos e manifestações.
Por outro lado, a figura do alemão de suave acento bávaro, que ama tocar partituras de Mozart no piano, não durou muito.
Seu primeiro discurso programado, pronunciado ante a Cúria Romana em dezembro de 2005, foi considerado o anúncio de um Pontificado conservador, até reacionário.
Desde então, ele enfrenta um desafio atrás do outro, uma polêmica depois da outra. Em 2006, em um discurso na Universidade de Regensburgo [Alemanha], no qual o Papa defendeu a ideia de uma fé religiosa que saiba usar a razão para neutralizar o perigo do fanatismo, causou um terremoto no mundo muçulmano. Na ocasião, ele fora criticado por recordar um diálogo de 1391, entre o imperador bizantino Manuel II e "um persa culto".
Um ano depois, em homenagem à tradição litúrgica que tanto adora, Bento XVI reabilitou a missa em latim, anterior ao Concílio Vaticano II, o que desatou a cólera dos judeus, que, depois, repudiaram a revogação da excomunhão do tradicionalista Richard Williamson -- beneficiado pela medida junto a outros três membros da ordem do arcebispo Marcel Lefebvre -- que em uma entrevista negou a existência das câmaras de gás no antigo campo de concentração de Auschwitz.
Alguns de seus discursos, como o pronunciado no Memorial do Holocausto de Yad Vashem, em maio do ano passado, também desiludiram a comunidade judaica, assim como a aprovação, no fim do mesmo ano, do Decreto das Virtudes de Pio XII.
Como se não bastasse as tensas relações "com os maiores irmãos da fé", o Santo Padre enfrentou a revolta de muitos governos, que não apreciaram suas palavras sobre a ineficácia do uso do preservativo na luta contra a Aids na África.
Contudo, seus colaboradores concordam que, mesmo triste com as polêmicas e críticas, Bento XVI não se preocupa com a evidente impopularidade e nem modificou suas convicções teológicas mais profundas.
Suas explanações, publicadas em forma de livros, são prova de sua dedicação e já lhe renderam recordes entre os autores mais renomados.
"Jesus de Nazaré" (2007), por exemplo, entrou na lista dos best-sellers, e suas três encíclicas, principalmente a terceira, "Caritas in Veritate" (2009), são consideradas verdadeiros manifestos econômico-sociais da atualidade.
Perante as crescentes denúncias de abusos sexuais cometidos contra menores no âmbito das entidades eclesiásticas, alguns o acusam de ter encoberto os crimes de pedofilia, na época em que fora arcebispo e cardeal.
Já outros sustentam que apenas depois de sua chegada a Roma a Igreja passou a adotar uma política de intransigência diante de tais acusações.
Agora, o Papa enfrenta o que se configura como um dos maiores desafios da Igreja: convencer o mundo e grande parte de seus fiéis que quer novas regras a uma entidade que ele mesmo criticou, por suas imperfeições e erros do passado, a começar pela queda da mais antiga e resistente norma: a do silêncio.
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