Cidadania italiana: nos consulados, um lado da questão que nem sempre é considerado. Quando o assunto é obtenção de cidadania italiana o enfoque da abordagem invariavelmente é unilateral: críticas sobre críticas à burocracia legal, à lentidão dos processos, às filas e ao atendimento nos consulados. Embora seja um direito inalienável dos descendentes reconquistarem a cidadania, de certa forma usurpada de seus ancestrais, o debate sobre a questão tem um viés fundamentalista na medida em que não se concede espaço, e não se analisa com distanciamento crítico-reflexivo, o “outro lado”. Especialmente o lado do corpo funcional dos consulados, cuja missão cotidiana é basicamente encaminhar e resolver uma tarefa recorrente: cidadania.
Tomando como exemplo o consulado de Porto Alegre, que inclusive já foi alvo de um atentado – coquetéis molotov foram atirados na porta do prédio no ano passado - quem passa a freqüentar o local, se for imbuído de um mínimo distanciamento, pode se surpreender tanto com a postura dos integrantes do órgão, quanto com o comportamento dos demandantes.
A primeira impressão de quem ingressa no prédio do consulado é extremamente positiva, por conta da solicitude e da educação dos funcionários que recebem os demandantes. Mesmo diante de algumas pessoas que fazem questão de revelar uma empáfia descabida, de também de outros irritadiços e impacientes, os funcionários atendem a todos com o mesmo respeito, liberando passaportes, prestando informações e distribuindo fichas para atendimento.
No terceiro andar do consulado, onde em diferentes salas são encaminhadas etapas das solicitações, outros funcionários atendem as pessoas de maneira informal. Alguns não se conformam por não estarem com algum documento conforme o exigido legalmente e não relutam em descarregar sua inconformidade sobre os funcionários, como se eles fossem os culpados por seus esquecimentos ou pelas normas estabelecidas.
Na manhã da última terça-feira (13), por exemplo, quem esteve no terceiro andar do consulado não pode deixar de notar o verdadeiro ataque que acometeu uma jovem. Em uma das salas, ela literalmente berrava, exaltando-se com uma funcionária por algo que não dera certo em seu encaminhamento.
Por mais que a funcionária tentasse explicar as razões, e o procedimento que ela deveria tomar, a moça não recuou, teimando em sua tese. Apesar da situação tensa, a funcionária em nenhum momento perdeu a compostura. É de se imaginar quantas vezes por semana esses funcionários são obrigados a enfrentar esse tipo de circunstância.
Cidadania é um direito inalienável dos descendentes. Não importa qual seja o interesse subjacente ou explícito na demanda. Do resgate simbólico-afetivo de uma cidadania que, de certa forma, foi perdida pelo ancestral, à conveniência de um passaporte “rosso”.
Mas quem quer efetivar na prática, no papel, o que corre em suas veias, precisa ter em conta que o consulado - e toda a sua estrutura, incluindo funcionários - faz parte desse contexto. É a Itália oficial aqui, materializada.
Não é neste âmbito que se coloca em prática a teoria conspiratória contra a concessão da cidadania. E onde trabalham “agentes” cuja única missão é complicar a vida de quem aspira a cidadania. O consulado e seu corpo funcional não fazem as leis.
As coisas não são fáceis, o caminho burocrático é um percurso longo, que pode ser acidentado. Mas tudo pode fluir com mais naturalidade se os espíritos se desarmarem, e se todos se olharem como conazionali, com respeito, educação e fraternidade.
Redação revista eletrônica Oriundi
Dica: Itália.org
Um comentário:
Muitas vezes fui atendido com pouca atenção no consulado italiano de Porto Alegre, mas nunca me passou pela cabeça jogar um coquetel molotov la. Espero este tipo de acontecimento não se repita.
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